DETALHES



Detalhes”

É de conhecimento público que após o final da segunda guerra mundial, ou seja, 1945 (62 anos atrás), este é o melhor período da economia mundial. Nenhum governo brasileiro após a redemocratização passou por momento tão favorável ao crescimento, quando inflação baixa, contas externas superavitárias, são alguns dos pontos favoráveis. A pergunta é: Por que não atingimos o patamar de primeiro entre os países em desenvolvimento, como Índia, China e África do Sul? Entre os vários fatores podemos eleger alguns “detalhes” que impedem uma continuidade de investimentos fixos nos setores produtivos. A começar pela burocracia excessiva, motivada principalmente pela má qualidade dos quadros, onde indicação partidária vale mais que competência técnica. Processos estáveis e claros, respeito a contratos e regras são essenciais para a que investidores e empreendedores saibam quais os custos das transações envolvidas, fazendo o necessário planejamento. Por outro lado, as normas obscuras, confusas e lentas atraem a corrupção, e sabemos que, em ambientes impregnados por desonestidade, investidores privados sérios não habitam. Sem o setor privado, onde está a “grana”, falta dinheiro para o crescimento e manutenção de infra-estrutura em muitos setores estratégicos. E não é o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) que sozinho vai dar jeito. O plano se baseia em investimentos públicos e privados, comandado e financiados em boa parte pelo Estado. Economistas renomados dizem que falta dinheiro para o PAC ter o mínimo de eficiência, já que a quase totalidade do gasto público primário vai para pagar a folha de pessoal, previdência, programas sociais, entre outros. Embora arrecade quase 25% do PIB em impostos, o governo federal aplica menos de 1% em investimentos. Para piorar, para aqueles que desejam, ou tem necessidade estratégica de investir, alas do governo manifestam freqüente desconfiança desses investidores, mesmo que é sabido que o PAC conta com investimentos privados. Para sair desta confusão o governo federal deve colocar o quesito competência técnica e administrativa em primeiro lugar, tanto nas empresas estatais quanto nas agências reguladoras. Basta ver onde está o setor de aviação, que já foi destaque mundial, que não contou com seriedade. Criando um quadro de solidez, de respeito às regras e de normas claras, principalmente em licitações, em setores que os negócios podem sair rápido; construção civil, transportes por estradas, ferrovias, portos e mesmo o aéreo, certamente seriam atraídos capitais de várias partes do planeta. O setor privado, nacional e internacional, tem dinheiro, e querem fazer parte deste crescimento.

Estrátegias de ocupação
Dois grandes momentos de manifestação popular acontecem durante os meses de maio e junho de 2007. O primeiro de cunho nacional, o 13 de maio, data de reflexão para afro-descendentes brasileiros, e o segundo é a Parada do Orgulho GLBTT, que ocorre na cidade de São Paulo, na segunda quinzena do sexto mês do ano. Atos como a Marcha Noturna pela Igualdade Racial, a Parada, e os vários eventos coligados, marcam estes períodos e são importantes como prova de cidadania, participação social e demonstração de união. Mas o que me faz a escrever este texto desta feita é um ponto que há anos me chama a atenção; a não transformação destas manifestações em uma forma do poder: a ocupação dos postos tradicionais do “fazer política”, ou seja, cargos como deputados, vereadores, senadores. Não por coincidência os dois movimentos têm seus estatutos há quase uma década parados nas gavetas dos deputados federais, e são ano após ano relegados. Em conversa informal com o petista Paulo Paim, autor do Estatuto da Igualdade Racial, percebi o quanto é difícil a luta de negros e negras neste país. São nove anos (1998) desde o inicio da tramitação, sendo que agora ele está parado, sem data para votação, de acordo com senador Paim. O Projeto de Lei que disciplina a união civil entre pessoas do meso sexo tem tido o mesmo tratamento. Também não por coincidência estas duas comunidades não contam com políticos em número suficiente que declarem apoio aos projetos. Em São Paulo a comunidade negra organizada não conseguiu aumentar a quantidade parlamentares declarados negros nas eleições 2006. Ao invés disto, infelizmente, perdemos cadeiras nas eleições 2006. Ora, se já difícil para alguns políticos se denominarem negros e lutar abertamente pelas pautas do movimento negro, o que dirá se declarar homossexual. Focando na minha comunidade, conteúdo para travar discussões sobre desigualdade, racismo, preconceitos já temos em quantidade, porém, faltam estratégias de obtenção dos cargos políticos acima citados, de maneira a representar o quanto a comunidade está apta a dividir e exigir seu lugar na sociedade. Mesmo levando em consideração toda a história de extermínio premeditado sofrido, penso que a hora de assumir o protagonismo declarado e aberto da nossa própria visão de sociedade esta mais que passada. Com a ausência de pessoas provenientes dos grupos considerados social e financeiramente desfavorecidos nas casas parlamentares, pouco, ou quase nada, se transforma. É incumbência das duas comunidades, a negra e a glbtt, tomar para si uma parte dos espaços de poder, especialmente o político.