Estrátegias de ocupação
Dois grandes momentos de manifestação popular acontecem durante os meses de maio e junho de 2007. O primeiro de cunho nacional, o 13 de maio, data de reflexão para afro-descendentes brasileiros, e o segundo é a Parada do Orgulho GLBTT, que ocorre na cidade de São Paulo, na segunda quinzena do sexto mês do ano. Atos como a Marcha Noturna pela Igualdade Racial, a Parada, e os vários eventos coligados, marcam estes períodos e são importantes como prova de cidadania, participação social e demonstração de união. Mas o que me faz a escrever este texto desta feita é um ponto que há anos me chama a atenção; a não transformação destas manifestações em uma forma do poder: a ocupação dos postos tradicionais do “fazer política”, ou seja, cargos como deputados, vereadores, senadores. Não por coincidência os dois movimentos têm seus estatutos há quase uma década parados nas gavetas dos deputados federais, e são ano após ano relegados. Em conversa informal com o petista Paulo Paim, autor do Estatuto da Igualdade Racial, percebi o quanto é difícil a luta de negros e negras neste país. São nove anos (1998) desde o inicio da tramitação, sendo que agora ele está parado, sem data para votação, de acordo com senador Paim. O Projeto de Lei que disciplina a união civil entre pessoas do meso sexo tem tido o mesmo tratamento. Também não por coincidência estas duas comunidades não contam com políticos em número suficiente que declarem apoio aos projetos. Em São Paulo a comunidade negra organizada não conseguiu aumentar a quantidade parlamentares declarados negros nas eleições 2006. Ao invés disto, infelizmente, perdemos cadeiras nas eleições 2006. Ora, se já difícil para alguns políticos se denominarem negros e lutar abertamente pelas pautas do movimento negro, o que dirá se declarar homossexual. Focando na minha comunidade, conteúdo para travar discussões sobre desigualdade, racismo, preconceitos já temos em quantidade, porém, faltam estratégias de obtenção dos cargos políticos acima citados, de maneira a representar o quanto a comunidade está apta a dividir e exigir seu lugar na sociedade. Mesmo levando em consideração toda a história de extermínio premeditado sofrido, penso que a hora de assumir o protagonismo declarado e aberto da nossa própria visão de sociedade esta mais que passada. Com a ausência de pessoas provenientes dos grupos considerados social e financeiramente desfavorecidos nas casas parlamentares, pouco, ou quase nada, se transforma. É incumbência das duas comunidades, a negra e a glbtt, tomar para si uma parte dos espaços de poder, especialmente o político.

Um comentário:

Fabio Cruz disse...

Todo o meu respeito a alguem que sei que luta pelo mesmo ideal, embora separados por fronteiras interestaduais a gana de sermos mais do que somos hoje para a população negra do Brasil nos faz sermos mais do que conhecidos , nos faz sermos irmão de luta

paz e bem. Axé

Fabio Cruz